quarta-feira, 16 de março de 2011

Já sei, vou de autocarro!


Subindo a movimentada Avenida Rei Katyavala, num dia-de-semana quente, um dos chamados “dias úteis”, que para mim deveria ser “inútil”, pois estava quente demais e o sol nem sequer tinha atingido ainda o seu “pico”. Ia eu passando por um famoso supermercado daquela rua quando lembrei-me da majestosa sandes que lá vendiam, feita de pão Croissant com doses generosas de queijo, fiambre e chourição para os sortudos, com uma camada de uma deliciosa manteiga branca, me imaginei degustando aquela sandes acompanhada de um refrigerante bem fresquinho, quando me lembrei de um factor muito importante: custa dinheiro!

Foi quando comecei a analisar as finanças que trazia comigo, o dinheiro até cheagava para as “comprinhas”, mas ficaria sem nada e eu ainda precisava ir de taxi até aos lados do Aeroporto, para ver as listas para os testes na Faculdade de Engenharia. Tentando maquinar uma solução para o “caso sandes” cheguei a seguinte conclusão: Já sei, vou de autocarro! Assim gastaria apenas 30% do que gastaria em taxi e com o dinheiro economizado poderia cobrir a quantia em falta para as minhas “comprinhas”.

Fazia tempo que não andava de autocarro, seria um desafio e tanto, em alguns minutos estava eu na paragem, o calor se intesificava e eu alí em pé esperando o “bus”. Quando finalmente apareceu, estava lotado, mas fazer o quê, já tinha até feito as “comprinhas”, avancei.

O ambiente no interior do autocarro era meio parado, porém muito tenso, rostos cansados, poucas palavras, talvez fosse efeito do calor intenso. Havia muita gente, e claro fiquei em pé porque assento no autocarro só se for idoso, mulher grávida ou com filho ao colo. Assim seguimos viagem, ao som de um programa radiofónico que falava sobre “as mulheres e seus direitos”, dava para ver pelos rostos calados que os pensamentos estavam todos rodando em volta do curioso tema do programa.

Uma senhora que estava sentada perto de mim levantou-se e desceu na sua paragem, dando lugar a uma mulher com o filhinho ao colo, fiquei olhando e reparei na ingenuidade, na inocência daquela criança que viajava despreocupada, sem se importar com o nível social de quem viaja ao seu lado, sem se queixar do mau cheiro, sem fazer cara feia pelo simples facto de ser tocada por alguém, enfim, sem “frescuras” e “não-me-toques”. E me porguntei porquê que muitos adultos não são capazes de ser como aquela criança?

Uma vez Jesus Cristo disse que deviamos “ser como crianças”, neste epísódio percebo que a questão não era “ser criança”, mas sim “ser como criança”, agir como a criança agiu, mas não por ingenuidade ou inocência, mas sim por amor. Só o amor nos levaria a viajar num autocarro abarrotado com o ânimo leve daquela criança. Ai esse amor! Esse amor que Jesus tanto nos aconselhou a cultivar, esse amor que supera todas as leis, esse amor que Deus sempre teve pelo homem e por meio do qual Ele cometeu tantas “loucuras de amor”, esse amor que tudo suporta, tudo perdoa, esse amor que tanto desprezamos.

Nós, humanos, criaturas feitas para amar, para viver em comunhão, hoje temos a coragem de pagar para nos isolarmos, pagar para viajar sozinho no táxi, pagar para viver em condomínios fechados, pagar para não partilhar!

Tudo isso por falta de amor uns pelos outros, tudo isso por falta de amor à Deus. Mas, eu procuro viver paralelo a tudo isso, acreditando no amor, exercendo o amor, vivendo no amor. Esse tem sido meu desafio diário “viver em amor” e não me envergonho disso, não me envergonho por ser manso, não me envergonho por ser humilde. Hoje em dia diz-se que “o mundo é dos vivos”, pois que seja, o meu mundo não é “isso”.

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